segunda-feira, 15 de março de 2010

Pressa (Postada em 02/02/2007 às 16h19)


Domingo, dez e cinco da manhã, o maldito sino da maldita catedral havia me acordado a muito pouco e eu, ainda de pijamas, continuava a observar a cena. Que grande show de monstruosidades! Velhinhas correndo levando crianças remelentas pelo braço, essas, por sua vez, gritavam e corriam de um lado para o outro tentando de alguma maneira arranjar motivo para apanhar de suas mães por terem sujado o mais belo traje que o dinheiro da faxina pode comprar. E isso era ridiculamente engraçado visto de uma janela do 5° andar. Mas estranhamente, após todos terem entrado, fitei os olhos em uma figura peculiar.
E estava eu a observar aquela linda moça que vestia uma mini-saia, salto agulha e, apressadamente atravessava a rua com uma das pequenas alças da bolsa vermelha entre os dentes enquanto tentava prender o ruivo cabelo com uma caneta. Não era a primeira vez que eu olhava e admirava os ágeis passos e as habilidosas esquivas que ela desferia de forma rápida, ameaçando a movimentada rua com um ar de superioridade, mostrando a todos que não podia ser parada ou afastada de seu objetivo principal. E este eu sabia muito bem qual era; chegar a igreja e ver a missa.
Pergunto-me então: "O que faz alguém ir a igreja?". Rapidamente eu mesmo tenho a resposta para essa pergunta tão abusada. "Fé" digo eu para mim mesmo. Como se fosse a coisa mais fácil do mundo acreditar em um ser superior que nunca me ajudou, me trouxe para esse mundo horrível e ainda por cima obriga minha vó a dizer que gosto dele. Tudo bem, eu respeito quem tem essa capacidade de acreditar na superioridade de Deus. Mas eu tenho muito mais fé em mim mesmo e em minhas capacidades do que em qualquer outra coisa. Mas mesmo assim, não me considero um deus e não é meu desejo ser um.
Dizem que todos têm esse sentimento, porém alguns precisam de ajuda para encontrar esses tal "Deus-próprio", que somos nós mesmos. E isso é verdade. Particularmente, eu não gosto de igrejas, porém preciso de algumas preparações para entrar em contado com alguém que têm uma visão maior sobre os acontecimentos, algumas soluções, pensa melhor e, principalmente, sabe a verdade sobre mim mesmo. Mas então: Por que a pressa de ir à igreja?
Se conseguiste alguns poucos amigos que puderam lhe ajudar com teus problemas, minha linda, e está prestes a encontrar o maior deles. Por que te apressas? Se Deus é onipresente, como dizem, e estas indo até a "casa" dele aqui na Terra. Por que a pressa? E agora me diz, minha linda, já botaste tua roupa, já tomaste a decisão, já saíste da tua toca, já está quase chegando e nem mesmo a morte te separa deste encontro tão esperado. É tão importante ouvir as ladainhas iniciais que o sacerdote vai dizer? Ou não deixar que os outros vejam teu rosto cansado por ter corrido atrás de respostas durante uma noite toda? Me diz minha linda: por que a pressa?
Então tuas pálpebras se fecham devagar, a imagem escurece aos poucos, os olhos se umedecem, a imagem retorna a se formar, o Sol bate novamente na retina e...foi feita a interrupção da vida. Literalmente "em um piscar de olhos" não se ouve mais o galope de teus saltos na calçada. Está parada, pensando, quieta. Foi feita a conexão. Mesmo não olhando para cá, sei que pensas assim como eu. E, lentamente, tira a caneta do cabelo, a alça da bolsa da boca, respira, suspira e começa a andar.
Tão formosos são teus passos, linda moça, mas não por vulgaridade. São belos pois são firmes e decididos. E, quase imediatamente, todos os olhos, de todos os rostos, de todas as pessoas que passam pela rua te olham espantados. Pois são firmes teus passos, que estremecem o mundo de cada um que a olha. E em cada fração de segundo abala almas e distorce tão vincados pensamentos.
E então abre um sorriso, que mescla com teu lindo rosto e com teu cabelo. A visão de teus dentes quase enfarta os passantes. Malditos invejosos. "Aquela puta vai pra igreja?"... Como se importasse a profissão. Se o Senhor não gosta de sexo, pecado ou erro, não nos daria chance para faze-los nem para nos redimir.
Mas tua vestimenta tão vulgar, teu destino tão ousado ou a sutileza de teus passos não assustam tanto as pessoas quanto o fato de que todas elas sabem que não estás ligando para o que pensam ou dizem. Pois o método que utiliza para chegar em seu destino não é conhecido. Não correrás, como o show visto a pouco, nem seguirás por obrigação. Irá aonde deseja, do modo que deseja, assustando quem assustar, sem ligar, sem dar nenhuma satisfação...
E eu aprendo contigo, pois um pensamento meu tu conseguiste ver. Agora entendo quando dizem que um pensamento pode mudar o mundo. Talvez não só um pensamento. Talvez não todo o mundo. Mas a cada pensamento que tenho, a cada instante que sou eu mesmo, modifico o meu mundo e vivo melhor comigo mesmo.


Comentários [3]

Gui disse:
eu li, eu li lá na tua casa
mas só agora tomei vergonha na cara de vir comentar

e vale o mesmo q disse pra ti

MTOOOO bom!
06/02/2007 · 06:53

ale disse:
Uma vez eu li um livro que tinha uma ótima definição sobre o assunto: "Deus não é uma entidade personificada ou aquele que da graças ou pune. Deus é a energia pura que faz as coisas se transformarem. O fato de ele ser onipresente quer dizer que esta energia atua em todo o tipo de matéria, sem excessão. Ele é a força que faz as células se multiplicarem e gerarem uma nova vida, por exemplo.

O Deus personificado foi criado apenas para controlar a sociedade e impor regras morais e éticas.

ta, me empolguei no comentário....
Bom texto, como eu ja tinha dito antes.^^

bjo
06/02/2007 · 19:06

Ury disse:
Cara...Muitoooo bom...Achei o texto lindo...Putz...Fazia um tempo que não lia algo tão maravilhoso!
Bjuxxx
09/02/2007 · 02:11

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